Quando se busca informações sobre o que é quimbanda, percebe-se que muito se fala sobre a quimbanda X, a quimbanda Y e a quimbanda Z.
Como se o nome que viesse depois de “quimbanda” fosse uma marca como Apple, Samsung e afins.
Mas não é assim.
Confira:
A Quimbanda é um culto/religião séria, antiga e ainda com muito a ser revelado ao público em geral que desses mistérios não participa.
Quimbanda é provavelmente a mais mal vista das religiões afro-brasileiras, sendo alvo de preconceito até mesmo de adeptos de religiões irmãs (como a umbanda e o candomblé).
Geralmente sendo considerada sinônimo de “magia negra” (como se magia negra fosse algo ruim, e não o é).
Pode-se dizer que o quimbandeiro sofre dupla intolerância religiosa:
- da sociedade em geral (principalmente dos evangélicos neopentecostais);
- e do restante da comunidade afro religiosa.
Este preconceito, como todos os demais, deriva da falta de conhecimento. (Veja aqui: Quimbanda é magia negra?)
Qual a origem da quimbanda?
A Quimbanda é um culto 100% brasileiro, alicerçado nas múltiplas crenças de nosso povo.
Fruto da união das crenças e realidades das diversas regiões do Brasil e suas religiões múltiplas como:
- islamismo;
- elementos dos índios nativos brasileiros;
- partes bem claras provenientes das religiões afro como as influências kimbundo-bantu;
- nagô-yorubá;
- além da feitiçaria popular e demonologia europeia;
- cultura tupi-guarani;
- e assim por diante.
A despeito de muito que tem sido falado por ai sobre a umbanda e a quimbanda, a bem da verdade, nos mais diversos registros históricos a quimbanda é anterior a Umbanda.
Como afirma Aluizio Fontenelle (EXU 1ª Edição:1949–2ª Edição:1954), onde com uma visão preconceituosa da quimbanda, afirma que a “Umbanda nasceu para combater a Quimbanda”.
Ué, se nasceu para combater algo, é por esse algo já existir, correto? É raciocínio lógico básico.
E nunca esqueçamos que a má fama da Kimbanda ou Quimbanda advém de desgraças históricas: a escravização e a imposição do cristianismo ao nosso povo.
Kimbanda x Quimbanda
Seguindo inclusive nessa linha de raciocínio, a palavra Kimbanda, oriunda da língua Quimbundo cujo significado é “curandeiro”.
Ou seja, pessoa que utiliza do conhecimento de ervas e suas medicinas para curar os males do corpo e da alma de seu povo.
Os Kimbanda ao chegarem escravizados no Brasil, assim como todos os outros escravizados, precisaram adaptar seu culto, suas crenças e suas ideias ao que encontrava por aqui de similaridade.
Era uma questão de sobrevivência, uma forma de esconder dos senhores de escravo suas verdadeiras crenças.
Não podemos esquecer que o povo africano que estava em terras brasileiras teve um duro e árduo processo de sobrevivência.
É desse período, por exemplo, que surgiu a ideia da Quimbanda associada ao “demônio” como uma estratégia de proteção.
Pois ao assumirem serem Kimbandas, causavam medo nos senhores feudais, que, por receio, muitas das vezes, não os agrediam e lhes davam um status superior.
Nunca podemos esquecer esse período tenebroso de nossos antepassados e as atrocidades cometidas.
Assim, entenderemos melhor as decisões que nossos antepassados tomaram e, então, aprimorá-las no que for possível para os dias de hoje.
Portanto, através desse processo de adaptação e sobrevivência, temos as grafias Kimbanda e Quimbanda.
Que no Brasil de hoje, são sinônimos e podem ser usados para indicar a mesma coisa: o culto chamado Quimbanda/Kimbanda.
Os Exus de Candomblé são de Quimbanda?
Sim e não, o culto a exu e pombagira segundo todos os registros históricos que conheço, retratam o culto deles como Quimbanda.
E, ao longo do tempo, esse culto passou a ser agregado a outros como a Umbanda (que começou com culto a caboclos) e ao Candomblé (culto a orixás).
Quer um exemplo?
Pergunte a qualquer pessoa do candomblé de ketu com mais de 30 a 40 anos de iniciado o que os mais antigos falavam dos que “recebiam egum” e veja como era raro alguém do candomblé ter culto a exu sem ser o orixá.
Hoje em dia o culto a exus nos terreiros de candomblé é normal e esperado, o que agrega muito ao candomblé, de forma bem positiva.
Então, de certa forma, o culto praticado no candomblé e nas “giras de esquerda” de umbanda são um tipo de quimbanda, porém, não é a quimbanda dita pura, onde Exu e Pombagira são os reis e senhores absolutos!
O que diferencia a Quimbanda do Candomblé e da Umbanda é que, na Quimbanda, os poderosos mortos que tomam as formas de exu, pombagira, ciganos, caboclos e preto velhos quimbandeiros são espíritos livres das amarras de outros seres e entidades.
Mas o que é Quimbanda em si?
Quimbanda é uma religião de culto a Exu em sua essência masculina e Pombagira, sua contraparte feminina.
O nome Exu advém do Orisa Esu, um interlocutor entre os homens e os demais orisas no Culto Tradicional Yorubá(Isese Lagba).
E, apesar do nome ser derivado dele, são entidades e seres muito diferentes.
Dentro da Quimbanda tradicional, acredita-se que os espíritos nela cultuados são ancestrais que tiveram ligação com a magia e o ocultismo enquanto em vida terrena.
Ou seja, espíritos ancestrais que ascenderam através do conhecimento da espiritualidade e sua força de manipulação da energia vital.
Sendo essa uma das razões que faz com o os espíritos de Quimbanda sejam livres e independentes de amarras com outros seres e entidades.
Afinal, um espírito que desencarnou lá nos tempos de 1500~1700, em plena escravatura, jamais se subordinaria a seres que são cultuadores da mesma religião que seus algozes escravocratas.
Existem orixás na quimbanda?
Na quimbanda geralmente orixás não são cultuados.
É comum que quimbandeiros também sejam iniciados para orixá, mas o fazem em outras religiões, como o candomblé, batuque ou pelo Culto Tradicional Yorubá, nos quais cultuam as divindades africanas.
Eu mesmo, sou sacerdote de Quimbanda e sacerdote de Culto Tradicional Yorubá.
E como tradicionalista que sou, deixo os cultos separados, mas ambos fazem parte de mim.
Que chegue a meu conhecimento, apenas a Quimbanda Mussurubi tem conexões com orixás dentro de seu culto.
Porém é exceção, e não regra.
Quimbanda é Amoral ou Imoral?
Deixo bem claro que o fato de utilizarmos a amoralidade (ou seja, ausência de moralidade), não significa liberdade para fazer o que bem entende sem pensar nas consequências mundanas.
Já que estamos aqui falando de um culto dogmático e que possuí ritos e fundamentos próprios.
Mas a quimbanda, como amoral, surge para explicar que o que é ruim para você nem sempre será para o seu próximo, e assim vice-versa.
Ou seja, em sua essência a quimbanda não é imoral, ela não se preocupa em “ferir a moral” de ninguém pois a moral para ela simplesmente não existe.
Nunca podemos nos esquecer que a moral e a ética são conceitos voláteis e que mudam ao “sabor” do tempo e do espaço.
O que é “certo e moral” em São Paulo pode ser muito diferente do Rio de Janeiro que por sua vez é muito diferente do “certo e moral” no Cazaquistão…
Por isso a quimbanda é essencialmente amoral, ela está acima dessa questão mundana de “certo e errado”.
A percepção e visão do quimbandeiro vai além disso e aí conseguimos ver quem realmente é quimbandeiro e quem apenas diz ser.
O que abre o espaço para falarmos de “como iniciar na quimbanda”!
Como me iniciar na quimbanda?
Iniciar na quimbanda é fácil e difícil ao mesmo tempo.
Estamos em pleno século XXI, era da informação e do conhecimento, portanto, é muito fácil achar diversos terreiros de quimbanda por aí.
O grande problema é você conseguir identificar templos de quimbanda que não sejam presos a amarras e pensamentos cristãos.
Pois acredite, muito pseudo-quimbandeiro-trevosão na maior parte das vezes não passa de um cristão rebelde com o “papai do céu”, nada além disso.
Ou você acha que aquele feiticeiro escravizado pelo senhor de engenho que era quimbandeiro e feiticeiro ficava pagando de trevosão?
Pois é, isso nem existia, e a quimbanda era muito mais forte do que se vê hoje em dia por aí.
O verdadeiro quimbandeiro vai além disso, transcende as amarras do mundo físico e compreende que o todo importa.
Por isso, achar um verdadeiro terreiro de quimbanda não é assim tão simples como parece.
Nunca se engane, Exu é um caminho, um grau, um título dos poderosos espíritos ancestrais.
Exu é escravo de nada e de ninguém, pelo contrário, muitos ai dizem que são quimbandeiros mas na verdade são apenas escravos de seus exus, um erro muito perigoso e fatal.
Mas uma vez que você tenha achado um bom quimbandeiro, aí basta conversar com ele, esclarecer suas dúvidas e então, começar o processo iniciático.
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